Menina, Mulher & Mãe

Quando o amor não nasce no parto

Assim que nasceste, encostaram-te a mim. Não me recordo de alguma vez me ter sentido tão bem, verdadeiramente em paz, foi quase como se o tempo congelasse e estivéssemos só as duas na sala. Cheirei a tua pequenina cabeça, olhei fixamente para cada detalhe teu e fechei os olhos com esperança de conseguir gravá-los na minha mente. Depois de tantos meses de espera, ali estavas tu, tão frágil e tão forte.

Desde logo senti o peso da responsabilidade que seria cuidar de ti, não só hoje ou amanhã, para sempre; senti também uma necessidade enorme de te proteger, de te manter a salvo, de assegurar o melhor para ti. Contudo, não experienciei, ou pelo menos não o reconheci como tal, aquele amor imediato que sempre me foi descrito.

Recordo-me de a Ana, uma amiga cuja filha nasceu na mesma altura que tu, escrever longas declarações de amor à filha, onde falava no maior amor que já conheceu; eu sabia que serias o grande amor da minha vida (pelo menos um deles) mas não o sentia de imediato, não conseguia proferir tais palavras, não me pareciam sinceras.

Não imaginas como chorei ao confrontar-me com a ideia de que talvez não te amasse. Como era possível? Eu desejei-te tanto, cantei para ti na barriga, preparei a tua chegada ao pormenor, sonhei contigo tantas vezes. Eu adoro crianças, como poderia não amar a minha?! Nunca tinha ouvido nenhum relato de uma mãe (mentalmente sã) que não amasse imediatamente o seu bebé, por isso algo de muito errado se deveria passar comigo!

Precisava de falar sobre o assunto, mas o receio de ser julgada sobrepunha-se. Não queria que pensassem que não te queria quando tal não era verdade, eu dava o meu melhor, talvez até em demasia, para ser uma boa mãe, cuidava de ti com imenso empenho, apenas não conseguia dizer que te amava perdidamente.

Hoje sei que o nosso amor sempre existiu, ainda que nem sempre o tenha sentido dessa forma. Ele nasceu pequenino, não com o seu tamanho final, tal como tu. Surgiu subtilmente, à medida que nos íamos conhecendo, compreendendo e partilhando. Ele aumentava cada vez que mamavas,  que te embalava, que dormias encostada a mim, que me fixavas com os teus doces olhos, que pedias o meu o colo. Em pouco tempo tornaste-te o meu tudo (como te chamo).

Nem sempre o amor nasce enorme, por vezes cresce, desenvolve-se e constrói-se a um ritmo próprio, como tu, como eu, como nós. Tal não faz dele mais ou menos forte, mais ou menos duradouro, apenas o torna naquilo que realmente o caracteriza – ser único.

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1 thoughts on “Quando o amor não nasce no parto

  1. andreia almeida diz:

    Que bom conhecer alguem que nos compreende… fui mãe de gémeos… muito muito desejados… mas a verdade é q qd me apresentaram os meus filhos (já com 12h de vida) eu olhei pra eles em busca de um sinal de amor eterno, um sentimento arrebatador ou uma lágrima a correr… mas não encontrei nada… lembro-me apenas d pensar… são estes?! Ola prazer sou a mamã… depois tive as mesmas duvidas… Hoje, são os amores da minha vida. Um amor tao grande e indescritivel… que cresceu, como eles, sem eu dar por isso!

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